sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Mitos e verdades sobre o câncer de ovário


A médica oncologista Ana Carolina Gifoni, membro do Comitê de Oncogenética da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e presidente da Rede Brasileira de Câncer Hereditário (ReBraCH), comenta sobre os principais mitos e verdades sobre a enfermidade.

 

Câncer de ovário é fácil de detectar


Mito. Com 7.310 casos novos esperados para o ano de 2023 e sendo a terceira neoplasia maligna ginecológica mais comum no nosso país, o diagnóstico do câncer de ovário é ainda um grande desafio. Exames de rastreamento para câncer de ovário (aqueles realizados na ausência de sintomas) têm mais riscos do que benefícios, e assim não são recomendados. Vale ressaltar que, apesar do exame de Papanicolau periódico ser fundamental para detectar tumores do colo uterino, ele não é um exame para detecção de câncer de ovário.


Além da falta de uma estratégia de rastreamento, o câncer de ovário é uma doença silenciosa e seus sintomas, assim como tardios, são inespecíficos, fazendo com que sua detecção precoce seja ainda mais difícil. Cerca de 70% dos casos são diagnosticados em fase avançada, o que contribui para que o câncer de ovário represente a maior mortalidade entre os tumores ginecológicos. Por isso, é muito importante conscientizar as mulheres a buscarem assistência médica, caso apresentem sintomas persistentes como empachamento, sangramento vaginal, necessidade frequente de urinar, desconforto ou distensão abdominal.


O câncer de ovário pode ser hereditário


Verdade. Aproximadamente 25% dos casos têm associação com predisposição hereditária ao câncer, principalmente por variantes nos genes BRCA1, BRCA2, mas também por uma variedade de outros genes como RAD51C, RAD51D, BRIP1, MLH1, MSH2, MSH6. Assim, todas as pacientes com câncer de ovário devem ser submetidas a avaliação oncogenética, independentemente da idade, do diagnóstico ou da história familiar de câncer. A presença de uma síndrome de câncer familiar pode impactar o tratamento e o cuidado pós-tratamento. Por exemplo, pacientes com mutações em BRCA têm uma resposta significativamente maior a certas drogas como os inibidores de PARP (polimerase poli-ADP-ribose). Além disso, caso a paciente possua mutação nos genes citados acima, existe um risco elevado de desenvolver outros tumores ao longo da vida, para os quais devem ser adotadas estratégias de redução de risco. Familiares de pacientes com predisposição hereditária ao câncer também devem ser encaminhados para avaliação oncogenética. Independente da hereditariedade, é muito importante a orientação e o cuidado direcionado a outros fatores de risco modificáveis como obesidade, tabagismo e terapia de reposição hormonal.


Não existe tratamento para o câncer de ovário


Mito. Muitas pacientes com câncer de ovário, mesmo quando diagnosticadas em estágios avançados, podem ter uma longa sobrevida se adequadamente tratadas. O melhor tratamento deve ser planejado conjuntamente com o cirurgião oncológico e o oncologista clínico. Para algumas pacientes, a quimioterapia é realizada antes do procedimento cirúrgico. Para outras, a cirurgia é o procedimento inicial e a quimioterapia é realizada após a retirada do tumor, com a intenção de reduzir o risco de recidiva. Na última década, houve um imenso avanço no tratamento do câncer de ovário, levando ao surgimento de novos medicamentos que entram na jornada de tratamento das pacientes após a quimioterapia, como por exemplo, inibidores da angiogênese, inibidores de PARP, imunoterapia, ou outras terapias-alvo. Esses avanços têm mostrado que, assim como em outras áreas da oncologia, a personalização do tratamento é a grande chave para alcançarmos os melhores resultados.


Pacientes com câncer de ovário podem manter a vida sexual


Verdade. Inúmeros estudos estabelecem a importância central da sexualidade na qualidade de vida e o impacto do diagnóstico e do tratamento do câncer de ovário na vida sexual. A morbidade psico-sexual associada ao câncer de ovário envolve diversos aspectos como ressecamento vaginal, dor durante a relação sexual (dispareunia), redução da libido, percepção negativa da própria imagem, depressão e ansiedade. Todos estes aspectos devem ser contemplados no cuidado oncológico integral. A equipe multiprofissional poderá encontrar caminhos para contornar estas queixas e tentar preservar a máxima qualidade de vida durante toda a jornada e, também, depois de concluído o tratamento.



Mitos e verdades sobre o câncer de ovário

A médica oncologista Ana Carolina Gifoni, membro do Comitê de Oncogenética da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e presidente ...